10 de março de 2009

e/ou

Sempre tive uma pulga atrás da orelha com relação ao e/ou nos textos. Além de eu considerá-lo um termo feio, penso que a leitura fica estranha, por isso eu sempre o evitei. Outro dia eu estava lendo um texto, não me lembro aonde exatamente, que se utilizava muito deste termo. Isso me levou a uma reflexão que remonta as aulas de lógica da faculdade.



Em lógica nós aprendemos, dentre outras coisas, os conectivos de Conjunção (a.k.a., E) e de Disjunção (a.k.a., OU). Esses conectivos operam sobre duas preposições, avaliando-as de acordo com a sua veracidade (uma preposição pode ser Verdadeira ou Falsa) e para realizar esta avaliação, cada conectivo dispõe de uma tabela conhecida como Tabela Verdade, que indica os resultados possíveis para cada combinação de preposições. Na figura 1 pode-se checar as tabelas verdade de cada um dos conectivos citados, lembrando que a leitura se dá da seguinte forma: Primeira Coluna Conectivo Segunda Coluna é igual a Terceira Coluna (e.g., Falso E Falso é igual a Falso).


Figura 1. Tabelas Verdade da Conjunção e da Disjunção.

Analisando as tabelas apresentadas, pode-se perceber que, na conjunção, o resultado só será verdadeiro se ambas as preposições também o forem. Já na disjunção, o resultado é falso apenas se ambas as preposições forem falsas. Vamos a um exemplo.

Considere a preposição p1 igual a "Eddie Vedder cantou." e a preposição p2 igual a "Eddie Vedder tocou.". Se aplicarmos a conjunção nestas duas preposições (p1 e p2), o resultado será verdadeiro apenas se Eddie Vedder tiver cantado e tocado. Qualquer outra combinação leva a um resultado falso. Por outro lado, se aplicarmos a disjunção nas preposições (p1 ou p2), o resultado será verdadeiro se Eddie Vedder tiver cantado, tocado ou feito ambos.

À partir dessa análise dos dois conectivos, pode-se perceber que para a obtenção de um resultado verdadeiro, a conjunção está contida na disjunção. Dessa forma, se queremos dizer que se uma coisa ou outra ou as duas acontecerem, não é preciso usar os dois conectivos: basta usar a disjunção, ou seja, em vez de dizer "Se Eddie Vedder cantar e/ou tocar, vai ser legal!", pode-se dizer "Se Eddie Vedder cantar ou tocar, vai ser legal!", sem perda de lógica no texto.

Você concorda ou discorda? Comente e/ou ou entre em contato! ;-)




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  • UFSC – Introdução à Lógica

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6 comentários:

  1. Grande zezim!

    Eu também as vezes paro para pensar sobre esta questão, usar ou não 'e/ou', e confesso que já usei varias vezes. O exemplo que usou sobre o Eddie Vedder realmente abre um incognita. Realmente nunca parei para pensar que a premissa 'ou' poderia resolver a questão, agora isto se tornou uma pergunta que gostaria de fazer a algum professor de português. Andei reparando também que esta ocorrência aparece em varios lugares e ninguem faz nenhuma crítica ou sequer existe alguma regra (não que eu conheça ou tenha visto).

    Me lembro claramente que eu usei 'e/ou' no meu artigo do TCC, fui lá conferir e vi por que eu usei. No meu caso a frase era a seguinte:
    "...uma fundamentação provinda de alguma hipótese, "lei", fórmulas e/ou fatos."
    Para nós que estudamos lógica, nossa mente se abriu com as Tabelas Verdade, mas para as pessoas que não aprenderam, 'ou' tem sentido de somente um e 'e' tem sentido de somente os dois (ficou confusa esta frase, huauahuau!). Vamos exemplificar, minha mãe me falava sempre "Carrinho ou robozinho, escolhe um dos dois.". Isto dá a entender que eu só tinha um opção, para este caso a Tabela Verdade não se aplica a mim como criança para o sentido da escolha.
    Na frase do meu TCC, quero dizer que podem ser toda as combinações possiveis e para o leitor a frase desta forma "...uma fundamentação provinda de alguma hipótese, "lei", fórmulas ou fatos." daria a idéia de ele só poderá ser aceito uma das quatro premissas. Entende o que quero dizer??

    Não acho que sua colocação esta errada, pelo contrário, esta corretíssima, mas o leitor que não conhece a Tabela Verdade não entenderia o sentido correto de uma frase sem 'e/ou', quando o mesmo for necessario.
    O que acha?

    Abraço!
    PS: Excelente Post!

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  2. Salve, Fabrício!

    Concordo contigo sobre a maioria das pessoas não perceberem a lógica intrínseca nessas duas palavras (conectivos). Contudo, eu creio que a língua portguesa em si permite muitas falhas de lógica. Vamos a um exemplo. Muitas vezes as pessoas, até eu mesmo, dizem: "Eu não fiz nada.", quando querem dizer que não realizaram qualquer ação em determinada circunstância.

    Ora, se você não fez nada, você fez alguma coisa! A solução para isso existe na língua inglesa, onde "I didn't do nothing" (Eu não fiz nada) não é permitido, sendo o correto, "I did nothing" (Eu fiz nada) ou "I didn't do anything" (Eu não fiz qualquer coisa). Não se pode fazer duas negações na mesma frase, por que uma anula a outra (Não Não = Sim).

    Como tudo é questão de costume e eu acredito que podemos mudar o mundo com pequenas ações, prefiro fazer o que eu acho correto. Assim como eu procuro falar "Eu fiz nada", também quero abolir o e/ou do meu vocabulário.

    Obrigado pelos elogios!
    Inté!

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  3. Olá!!! Muito tempo sem aparecer aqui, neh! Mas quando venho, surpreendo-me sempre!! Amei esta explicção sobre e/ou! Para o campo da lógica, ficou muito bom, e bastante encaixada à lógica do português. Claro que a conjunção E tem sentido de adição, sendo mais conhecida por sua utilização em orações coordenadas aditivas, e a conjunção OU em orações coordenadas alternativas.

    ótimo texto!!!

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  4. Obrigado, Two Ways! Tava sumida mesmo!
    Não sei se essa foi uma grande viagem minha, mas ainda não consigo conceber e/ou depois desse texto. Talvez uma boa aula de português faça eu perceber se há algum erro nisso ou reforçar a minha teoria.
    O fato é que nunca fui bom em regras de português: eu utilizo por bom senso... rs Português é complicado demais pra mim!
    Inté!

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  5. Tenho certeza que na minha próxima dissertação vou usar desta forma, geralmente eu uso e/ou sem pensar muito.

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  6. Valeu Yago!
    Só lembrando que esta é uma visão sob a perspectiva da LÓGICA sobre o assunto. Cabe fazer uma análise sob as regras da língua portuguesa também. Se o fizer, não esqueça de compartilhar o resultado aqui.
    Abraço!

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