20 de outubro de 2008

A Tetralogia de Hannibal

Thomas Harris (1940) é um escritor estadunidense, autor alguns livros criminais (cinco até a data de escrita deste texto), notavelmente conhecido pela sua terceira obra, The Silence of the Lambs (traduzido em português como O Silêncio dos Inocentes).

O Silêncio, como costuma ser chamado o terceiro livro de Harris, foi o segundo livro do autor a ser adaptado para o cinema e, assim como os outros quatro da série, envolve o Dr. Hannibal Lecter, famoso personagem criado por Thomas Harris. De fato, a tetralogia de Harris é tão famosa, que os quatro livros tiveram adaptações para o cinema.

Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo das obras: Hannibal Rising, Red Dragon, The Silence of the Lambs e Hannibal.

Cronologicamente, a história começa com o último livro a ser lançado (2006). Hannibal Rising (traduzido em português como Hannibal – A Origem do Mal) narra a juventude de Hannibal Lecter (Gaspard Ulliel), que vê sua família se desfazer durante a Segunda Guerra Mundial.

No decorrer da história, são mostrados detalhes que ajudaram a formar o caráter de Lecter, como a morte e posterior degustação da carne de sua irmã Mischa Lecter (Helena Lia Tachovka) pelos saqueadores que os mantinham reféns em sua própria casa. Oito anos mais tarde, desamparado e vivendo num orfanato que antes era o seu lar, Hannibal foge para Paris, para se encontrar com seu tio. Chegando lá, descobre que o mesmo havia falecido, mas a sua mulher, a bela Lady Murasaki (Gong Li) o recebe em sua casa, dando-lhe condições para que possa entrar para a faculdade de medicina. Posteriormente ela o ajuda em alguns assassinatos e torna-se sua amante, até deixá-lo no final, assustada com o monstro em que Hannibal havia se tornado, na sua busca por vingança contra os assassinos de sua irmã.

Pessoalmente eu achei que o filme ficou aquém dos outros. Creio que a história ficou grande demais e em determinado ponto eu já queria que o filme acabasse.

Seguindo a história, Red Dragon (1981 – Dragão Vermelho) conta como Will Graham (Edward Norton), um detetive do FBI, capturou Hannibal (Anthony Hopkins) e quase perdeu a vida com isso. Anos mais tarde, Graham, já afastado do FBI, é contactado por Jack Crawford (Harvey Keitel – agente do FBI) para que ele auxilie na captura de um assassino em série apelidado de Fada dos Dentes.

Durante a investigação, Will recorre a Hannibal para que este o auxilie, mas além de ajuda, o prisioneiro põe em risco a vida da família do investigador. Posteriormente, descobre-se que o psicopata é Francis Dolarhyde (Ralph Fiennes), um sujeito atormentado pela sua infância com sua avó, quando era abusado física e emocionalmente por ela. O romance se desenrola até culminar na morte de Dolarhyde por Graham, na casa deste, na Flórida. Uma curiosidade é que no final, é anunciada uma visita para o Dr. Lecter, que é a sequência onde uma nova agente do FBI entra em contato com o canibal, indicando o início do próximo livro da série. Este romance foi adaptado duas vezes para o cinema. A primeira foi em 1986, quando foi intitulado Manhunter e a segunda em 2002.

Acho que Dragão Vermelho é um dos melhores filmes da tetralogia, pois conta com ótimas sequências de investigação policial, suspense e ação. É diversão garantida para quem gosta do gênero.

Uma das cenas que mais me chamou a atenção, foi quando Graham entra na casa da primeira família assassinada. Na ocasião ele entra sozinho na casa e tenta desvendar os passos do assassino. Mais tarde, no seu quarto de hotel, sentado no chão, rodeado por fotos e relatos, ele chega à conclusão de que o assassino colocava cacos de vidro nos olhos dos cadáveres, para que eles parecessem vivos. Fantástico!

Após os fatos ocorridos em Dragão Vermelho, um novo assassino em série aparece. Buffalo Bill (Ted Levine) é um psicopata que assassina mulheres obesas e então retira pedaços de suas peles, para confeccionar uma roupa para si próprio, já que ele se julga transsexual. Este é o psicopata de The Silence of the Lambs (1988 – O Silêncio dos Inocentes). Para pegá-lo, Jack Crawford (Scott Glenn) convida a então estudante da academia do FBI, Clarice Starling (Jodie Foster), para participar das investigações. O motivo é que ela teria o perfil indicado para obter a ajuda de Hannibal (Anthony Hopkins).

No decorrer da história, Clarice vai adquirindo experiência e vai se tornando cada vez mais útil para a solução do caso. Durante este processo, descobre-se que a verdadeira identidade de Buffalo Bill é Jame Gumb e este se torna famoso ao sequestrar a filha de uma senadora dos Estados Unidos. Para tentar ganhar fama, o diretor do asilo onde Lecter estava internado, o Dr. Frederick Chilton (Anthony Heald), propõe que Lecter diga onde está Buffalo Bill, para que a filha da senadora pudesse ser resgatada. Assim o Dr. Chilton teria fama e Lecter seria transferido para um outro asilo, com mais conforto. Lecter aceita, mas pede que ele próprio converse com a senadora (o que implica numa transferência temporária do prisioneiro).

Com a senadora, Lecter não dá grandes informações sobre o paradeiro da sua filha (na verdade ele dá pistas sobre um falso paradeiro dela e do sequestrador), mas após o encontro, em sua cela temporária, ele consegue matar os guardas responsáveis pela sua custódia e enganar os outros que chegaram para dar reforço, conseguindo escapar. Porém, antes disso, ele dá pistas mais concretas à agente Starling sobre onde encontrar Buffalo Bill. Dessa forma, com Lecter à solta, o FBI é levado a uma pista errada sobre o paradeiro do psicopata, mas Starling descobre o lugar correto onde ele estava.

Depois de muita tensão dentro da casa do assassino em série, que conta com uma das melhores e mais tensas sequências do cinema, a agente Starling consegue matá-lo e salvar a filha da senadora. Com certeza este é um dos melhores filmes do gênero. Não foi à toa que ganhou 5 dos principais Oscar de 1992.

Sete anos se passaram após O Silêncio. Lecter (Anthony Hopkins) agora trabalha numa biblioteca em Florença, Itália, sob o nome de Dr. Fell. No FBI, Clarice (Julianne Moore) ainda tem pesadelos com Lecter e pensa em capturá-lo. Mason Verger (Gary Oldman) foi uma das vítimas de Lecter que conseguiu sobreviver, apesar de ter todo o seu rosto desfigurado. Desde que Verger descobriu que Lecter havia escapado da prisão, ele mantém uma recompensa para quem entregá-lo, pois planeja uma morte dolorosa como vingança ao psicopata. É neste cenário que se desenrola o último romance (até agora) da tetralogia: Hannibal (1999).

Ao meu ver, comparado com Dragão Vermelho e O Silêncio dos Inocentes, Hannibal deixa muito a desejar. Acho que faltaram mais detalhes sobre investigação policial e mais cenas de suspense. Lecter na pele de Hopkins aparece mais uma vez macabro. Uma das sequências do final exemplifica bem isso: Lecter corta um pedaço do cérebro do então sedado, Paul Krendler (Ray Liotta – um agente do FBI que trabalha junto com Starling, tentando descobrir se houve algum tipo de negligência ou ajuda da parte dela na fuga de Lecter) e então o entrega para o próprio Paul comer. No final, Clarice se algema à Lecter impedindo que o mesmo fuja da polícia, mas o Dr., num ato desesperado, pega uma faca e a sequência dá a entender que ele corta a própria mão ou a de Clarice para escapar (no livro, Clarice se oferece a Lecter e os dois tornam-se amantes e fogem).

São quatro grandes filmes, sendo que os dois do meio se sobressaem aos outros. Para quem gosta de filmes policiais ou suspense, esta é uma sequência obrigatória. Para aqueles que não gostam, vale a pena assistir, pois podem fazer muitas pessoas mudarem de opinião.

Thomas Harris abusou do direito de criar e acabou inventando um dos mais célebres personagens de ficção da história. O Dr. Hannibal Lecter, com sua inteligência e requintes de crueldade é um personagem que causa arrepios e Anthony Hopkins soube transpô-lo com muita qualidade para as telas de cinema. Vale a pena assistir!

Hannibal Rising 3 Stars
Red Dragon 4 Stars
The Silence of the Lambs 4 Stars
Hannibal 3 Stars




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