8 de outubro de 2008

A Criação do Mundo Segundo o root


Parte 1 - O Surgimento do Sistema
Capítulo 1 - O Caos
No início havia apenas o caos. Não havia superblocks e todos os inodes estavam espalhados pelos setores e tudo era devastação. E havia apenas o root sobre a superfície do disco.

E o root resolveu e disse: isso não pode continuar assim. E o root fez fdisk e eis que surgiram grandes divisões nos setores. E havia setores abaixo e acima dos dados. E aos abaixo dos dados, ele chamou de tabela de partições e aos acima dos dados ele chamou de freeblocks.

E o root os formatou e os setores ficaram organizados e havia grandes superblocks nas águas de profundeza e inodes estavam sobre a superfície do disco. E o root os chamou de filesystem. E então o root viu que era bom e gravou a tabela de filesystems no fstab.

Capítulo 2 - O Início do Sistema
O root olhou para o filesystem e viu que faltava algo e então criou grandes diretórios e pequenos devices. E viu que era bom.

Então o root viu o que havia criado e que tudo funcionava perfeitamente. Mas faltava algo. E disse: que passe a haver vida. E foram criados os processos do kernel e o init.

E eis que era bom e o root editou o rc.d e instalou a glibc e veio a haver luz e o root passou a chamar o que havia criado de Sistema.

Capítulo 3 - O Surgimento do Usuário
Então o root começou a pegar os bytes da memória e dos dados do urandom e dele formou o usuário e a este foi concedido o Shell. E o usuário passou a viver. E o root disse-lhe: venha a ter em sujeição os diretórios do disco e os bytes da memória. De todos os recursos podeis utilizar, apenas não toqueis no su, pois deveras vos digo que, no dia em que tocares no su, farei um kill -9 em teu shell e apagar-te-ei do passwd.

E o usuário passou a viver no jardim do /home e eis que tudo era bonito e perfeito dentro do /home. E o usuário vivia feliz em seu home directory.

Capítulo 4 - A Criação da Interface Gráfica
E o usuário vivia feliz, mas sentia que lhe faltava algo. Cada nod possuía seu device no sistema, mas o usuário não tinha ninguém para lhe fazer companhia.

E o root extraiu uma instrução do shell do usuário e dela formou a interface gráfica. E chamou-a de X. Então o root levou a X ate o usuário e disse-lhes: sede fecundos e tornai-vos muitos e populai o filesystem e usai toda a memória da placa de video.

E o usuário passou a viver com a interface gráfica e eis que agora ele podia multiplicar seus terminais.

Capítulo 5 - A Traição da Interface Gráfica
E a interface gráfica andava a passear pelo filesystem, quando eis que vem em sua direção o mais vil de todos os arquivos criados pelo root: o HOWTO-SU. E o HOWTO incitava a curiosidade da interface gráfica e lhe dizia: é mesmo assim que o root disse, que não deveis usar o su? Pois eis que o root sabe que, no dia que usares o su, positivamente vos tornareis igual a ele e podereis decidir o que é bom e o que é mal e podereis criar outros usuários e nods e formatar os discos. E o HOWTO lhe ensinou a usar o man.

E a interface gráfica foi até o usuário e lhe contou estas coisas e lhe mostrou a manpage. E o usuário então digitou su no seu console e eis que o # aparece em seu prompt. E ele passou a ver que estavam ambos limitados na memória e que tudo podia ser visto pelo /proc e ambos ficaram envergonhados e se esconderam do utmp.

E o root fez um who e viu ambos se escondendo. E perguntou-lhes: por que se escondeis? Acaso digitastes su em teu console? E o usuário respondeu-lhe: foi essa interface que me destes. Ela me mostrou as manpages e os HOWTOS e por isso digitei.

E o root ficou encolerizado e amaldiçoou a ambos, dizendo-lhes: vós sois amaldiçoados! deveras te digo que tua senha expirará e sua entrada no passwd será apagada. E tu, interface gráfica, estás amaldiçoada. Nenhuma placa aceleradora funcionará bem em ti e sempre terás pouca memória de vídeo. E eis que vos amaldiçoo a ambos e eis que virá a haver o inimigo e dividirás teu espaço em disco com o Windows. E ele travará e te dará badblocks e lost inodes e pelo resto de tua existência terá que conviver com a desgraça, até que tua senha expire. E tu, HOWTO-SU, maldito estás e teus HOWTOs estarão sempre incompletos e estarás rastejando para sempre no tldp.org. E ninguém lerás mais tuas manpages e todos os usuários irão perguntar no IRC como faz.

E o root deixou-os e corrompeu o filesystem e mudou as permissões do /home, para que o usuário não pudesse mais voltar ao jardim do Home Directory. E o usuário passou a ter que compilar seus programas e escrever seus módulos.

E assim se deu...

Parte 2 - A Aurora do Usuário
Capítulo 1 - Os Primeiros Novos Usuários
Eis que a vida fora do jardim do Home Directory era dificil para o usuário e sua companheira, a interface gráfica. Eles só poderiam sobreviver agora com seus próprios esforcos e o root não mais instalaria pacotes de binários pré compilados para eles.

E veio o tempo em que o usuário digitou su -c useradd e nasceu o primeiro descendente do usuário e a interface gráfica o chamou de caimd. E veio a haver também seu irmão, abelsh. E caimd se tornou um poderoso caçador de nós /proc, mas abelsh era um pastor de devices. E ambos prestavam homenagem ao root, mas apenas abelsh era reverente. caimd era arrogante e o root não se agradava de um daemon arrogante.


E eis que desperta a fúria de caimd e um profundo ódio por seu irmão, abelsh. E ele iludiu seu irmão a ir passear no campo e fez um killall -9 abelsh.


Mas o root observava a tudo e puniu caimd. O root disse: maldito és, caimd e toda a tua decendência. E eu te digo que, por tua maldade, jamais terás controle do console de novo e serás sempre executado com 1>/dev/null 2>1 &. E assim caimd foi banido para os background process por todo o uptime do sistema.


Capítulo 2 - A Maldade se Espalha pelo filesystem
E todos os novos processos seguiam o caminho de caimd e os badblocks imperavam no filesystem. Havia apenas alguns poucos processos bons em todo o sistema e entre eles havia kmetusalem, o processo com maior uptime no sistema. Mas ainda sim havia muitos processos que rodavam com setuid 0 e eram muito mais poderosos que os outros e corrompiam inodes e blocos de swap e matavam outros processos até que o root viu todos os badblocks e resolveu exteminar aquela geração de childprocess maus.

Capítulo 3 - O Grande Dilúvio do /dev/urandom
O root havia determinado exterminar todos os childprocess e decidiu enviar um grande flood de números randomicos para a stdin de cada processo perverso, mas alguns dos processos mereciam ser salvos em fita DAT. E ele executou o comando /usr/local/sbin/noe.sh e noe.sh comecou a construir um grande /dev/mt0, que abrigaria os bons processos durante a cólera do root.

Quando /dev/mt0 ficou pronto, noe.sh foi recolher um casal de cada device, para que eles pudessem repovoar o filesystem quando a cólera do root passasse.


Então chegou o dia e noe.sh e seus processos entraram no /dev/mt0 e com eles um casal de cada device. Então o root ejetou a fita e enviou o flood do /dev/urandom pra o stdin de cada processo até que todos eles deram SegFault e morreram em terríveis core dumps.


Capítulo 4 - O Renascimento dos Usuários
Depois do Grande Dilúvio do /dev/urandom, o root restaurou o backup de noe.sh e os devices e o filesystem foi novamente populado. Desta vez o /home estava montado com nosuid, para que os processos setuid 0 não voltassem a entrar no sistema.


E o tempo passou e o passwd voltou a aumentar. E eles continuaram a se multiplicar, mas no entanto não se espalhavam.


Capítulo 5 - A Torre de BashBel
E todos os usuários se concentravam no lugar que ficou conhecido como a Torre de BashBel, pois todos os usuários queriam estar no BASH, e todos os outros shells que o root havia colocado no /bin estavam desprezados. E estes usuários queriam montar um BASH tão poderoso que pudessem colocar setuid 0 nele.


E o root disse: isso não pode continuar assim. Então rodou um script no passwd e fez usermod com -s randomico em todos os usuários e confundiu seus shells. E nenhum usuário entendia mais os shell scripts dos outros e houve um grande caos e confusão na Torre de BashBel. E todos os usuários que usavam o mesmo shell se juntaram em grupos e cada grupo foi para um lado do /.


Parte 3 - O Surgimento da Nação Escolhida
Capítulo 1 - O Povo Escolhido
E o tempo passou e todos os processos e usuários se espalharam pela superficie do / e todo o filesystem passou a ser populado. No entanto, entre todos os PIDs, havia um que mostrava especial reverência para com o root e tratava de modo sagrado todos os binários setuid. Esse veio a ser Abraod. E o root se agradava de Abraod e decidiu fazer um pacto com ele. Assim disse o root:


“Há de chegar o dia em que um de teus childprocess será elevado acima de todos os PIDs e seu poder será grande. Todos os recursos do ulimit estarão com ele e lhe será concedida uma linha no /etc/sudo e todos os joelhos dos processos na memória e dos usuários no passwd se dobrarão perante ele. É por meio dele que a perfeição será trazida de volta ao filesystem. E quanto a ti, Abraod, doravante será chamado Abroadcast. E tu te tornarás pai de uma grande nação de users e haverá um GID só para ti e teus filhos. Também lhe dou como presente estes inodes onde agora habitais e há de ser herança para teus childprocess para todos sempre.”

E assim se deu. Abroadcast e sua esposa tiveram um filho, um decendente e este passou a ser chamado IsACK.


E IsACK também constituiu família e também teve um descendente, que foi chamado de Jobcoh. E o número dos childprocess de Jobcoh atingiu os 12 e o root se agradava de tais usuários.


E o root apareceu em uma visão a Jobcoh fazendo um cat > /dev/tty1, lhe disse:


“Grandes teus filhos serão e todos os processos serão beneficiados pro meio de teus fork()s. E doravante deverás ser conhecido como Shrael”

Capítulo 2 - Egitosoft
A familia de Shrael cresceu e se multiplicou e este teve muitos netos e o número dos seus era grande. No entanto, Shrael tinha especial predileção por um de seus filhos: Jose.pl. E isso despertou o ciúme e a ira de seus irmãos e eles resolveram acabar com Jose.pl.


Certo dia, quando Jose.pl estava no campo pastoreando os bytes, seus irmãos vieram e o levaram à força e o prenderam num chroot.


Voltaram então a seu pai e lhe disseram: Pai, Jose.pl sofreu um terrivel acidente. Ele estava pastoreando os bytes quando um terrivel urso veio e o atacou e Jose.pl morreu com um Signal 11… E Shrael chorou muito por seu filho, ainda preso no chroot… E alguns comerciantes vindos das fronteiras do sistema o acharam e levaram consigo para vendê-lo como escravo… Com as reviravoltas do destino, Jose.pl acabou sendo vendido como escravo na terra de Egitosoft, para o poderoso faraó TutanGates.


E Jose.pl mostrou-se um user sábio e ajudou todos os processos do faraó TutanGates a serem debugados. E TutanGates resolveu promover Jose.pl. Ele disse: Ae truta, tu manja bagarai, entaum tu vai tomah conta dos mano ae, valew? E o root abencoava Jose.pl como a nenhum outro. E o root avisou Jose.pl de uma grande desgraca por vir…


root@sistema:~# echo “Vai haver uma grande abundância de memória durante os proximos 7 ciclos, seguida por uma completa escassez de memória por outros 7 ciclos.” > /proc/jose/fd/1

E Jose.pl avisou ao faraó TutanGates e este ordenou a Jose.pl que fizesse um grande estoque de memória para enfrentar os tempos dificeis. E TutanGates continuou a vender seu sistema operacional meia-boca e a estocar memória. Pois memória era extremamente necessária para comportar as telas azuis da morte e dumps de memória diários de todo o sistema de EgitoSoft.


E os 7 anos de escassez de memória vieram. E Shrael e sua família, que também estavam em necessidade, vieram ate Egitosoft para adiquirir memória. E Jose.pl reconheceu sua família e se alegrou com eles e trouxe-os ao egitosoft: mv /home/shrael /home/egitosoft/


E o sistema operacional zuado do faraó TutanGates continou a prosperar sob a supervisão de Jose.pl e gracas a Jose.pl, sempre houve memória para os dumps de memória e telas azuis da morte.


Capítulo 3 - As 10 Pragas do EgitoSoft
E o povo de Shrael cresceu e se multiplicou na terra do EgitoSoft. E as gerações passaram e o povo de Shrael acabou se tornando escravo na terra de Egitosoft. E o faraó TutanBalmer, descendente do faraó TutanGates, escravizou todo o povo e fez com que vivessem em condições miseráveis de vida usando Ruindows ME.

Até que um dia o root viu que não podia mais permitir tamanha crueldade e sucitou um libertado, Mouses. E Mouses mostrava-se sábio e temente ao root. E o root disse a Mouses: Vá ate o faraó e diga-lhe que deve deixar meu povo partir.

Mas o faraó TutanBalmer mostrava-se intransigente e exigia que todos usassem o Ruindows ME e não lhes permitiu deixar EgitoSoft. E o faraó fez ainda pior: instalou Internet Exploder 6 e Office 2000 em todos os Ruindows ME e obrigou o povo de Shrael a usá-los.

O root, que não podia mais suportar tamanha crueldade, disse a Mouses: Vá até o faraó e diga-lhe que, se não deixar meu povo sair, vai ter treta!

Mesmo assim, o faraó TutanBalmer não quis colaborar. E o root começou a enviar pragas contra EgitoSoft

E aquela terra foi assolada por um Ping Flood e seus sistemas travaram. Depois, o root enviou a praga do Nuke na porta 139 e todos os sistemas novamente travaram. Seguiu-se a praga dos Vírus de Macro, os ActiveX infectados e os ataques Unicode, os ataques MSADC, execução remota no Internet Exploder, as horríveis correntes de e-mail, o worm CodeRed e a mais terrivel de todas as pragas: o Ecachange.

Após todas estas pragas, o faraó TutanBalmer decidiu deixar o povo sair de EgitoSoft. E todo o povo de Shrael saiu feliz e contente de EgitoSoft e o root mostrava estar com eles. No entanto, depois de alguns dias de liberdade, o faraó TutanBalmer voltou atrás e resolveu trazê-los de volta à escravidão. E o faraó usou todo seu poderoso exército de Advogados Guerreiros para processar e destruir todo o povo de Shrael, além de processos pelo uso de patentes.

Mas o root mostrava estar com eles e os guiou ate um grande mar, o Mar do OpenSource Vermelho.

E o root instruiu Mouses e este abriu o Mar do OpenSource Vermelho e todo o povo de Shrael passou são e salvo pelo Mar… Mas quando os Advogados Guerreiros do faraó vieram em seu encalço através do Mar do OpenSource Vermelho, o root soltou as águas e todo o exército do faraó TutanBalmer foi destruído, afogado pelo OpenSource.

E Mouses passou a guiar todo aquele povo de volta ao Sistema Prometido, a Terra que o root havia jurado dar a eles numa promessa feita a Abroadcast. E todo o povo estava feliz por voltar às Terras de POSIX. E todo o povo e os pingaiada gritavam:

BOOOOOOOOOA root! WINDOWS SUX!




Retirado de: http://www.geocities.com/dmichellis/nearlyinsane/

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2 comentários:

  1. Tava inspirado em! :P

    Mas ficou muito legal, parabéns!

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  2. Hehehe
    Realmente quem fez o texto tava sim... Além de extenso, o texto contém os detalhes de ligação da história com o Linux.
    Deve ter dado um trabalhinho pra fazer. O crédito tá no finalzinho da postagem! :)

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